As marcas constantemente lançam campanhas, produtos e/ou serviços, na maioria das vezes com o desejo de inovar ou conquistar novos públicos. As peças publicitárias resultantes de tais esforços são elementos fundamentais que dizem muito sobre o posicionamento das marcas e revelam coerências ou discrepâncias que interferem diretamente nas imagens formadas por quem as recebe. Observar essas ações pelo viés da comunicação é um exercício interessante, pois é quase inevitável associar as histórias, missões e valores das marcas às produções veiculadas na TV aberta, Internet ou em outros meios.

Primeiramente, vamos analisar alguns exemplos positivos de peças exibidas atualmente:

Justiça Eleitoral - Campanha Igualdade na política

Através da reconfiguração de afirmações, a peça proposta pela Justiça Eleitoral quebra paradigmas referentes à participação da mulher em diversas atividades do mercado de trabalho, até chegar na atuação política. Encoraja, portanto, uma maior participação da população feminina no âmbito político, reconhecendo a sua influência e sua força.




Vivo - Viver é a melhor conexão

Para além dos problemas técnicos e contratuais que a marca possa ter com os seus clientes, temos que reconhecer a beleza da campanha. Utilizando-se de metáforas que aproximam denominações técnicas de fatos das vidas das pessoas, a campanha consegue emocionar e simplificar a linguagem das tecnologias digitais. Dá destaque aos sentimentos e às interações, de forma leve e emotiva, com o reforço do fundo musical.



Volkswagen - Irmãos

A Volkswagen acertou ao priorizar as relações interpessoais. O recurso tecnológico do Novo Gol é a apresentado como facilitador e mediador entre pessoas e não como recurso central ou determinante. As diferentes gerações apresentadas na peça ampliam o alcance da peça e a sua narrativa emociona até os mais enfadonhos motoristas.




Por outro lado, podemos verificar também peças que não foram muito felizes nas suas concepções:


Claro - Samsung Galaxy S7 no Claro up

A peça se apropria do contexto das Olimpíadas que se aproximam no Brasil de modo equivocado, ao mostrar uma esportista de salto com vara indo parar numa loja Claro de forma abrupta e quebrando o teto do estabelecimento atrás de uma oferta. No mínimo, nonsense. Os clientes merecem uma proposta de atração mais decente.



Continua...

Se a internet e a tecnologia trazem facilidades e informações, a falta de privacidade parece tema irreversível. Gostos e preferências são desvendados em um clique e os dados, sem consentimento, serão utilizados para oferecer serviços

por João Antonio de Moraes*


                                        Imagem: Shutterstock

Um clique e estamos na página inicial do perfil de Paulo no Facebook. Outro clique e temos acesso às informações de que Paulo é casado, gosta de futebol, fez uma viagem recentemente, tem duas irmãs - Marina e Mariana -, um sobrinho de 1 ano e 5 meses chamado Pedro, que costuma assistir determinados seriados de TV, escuta músicas de Tom Jobim e Caetano Veloso, entre outras particularidades. Mais um clique e é possível saber que Paulo acabou de sair de casa para jantar com sua esposa em um restaurante localizado no bairro da Mooca em São Paulo. Com três cliques (e, em determinados casos, até menos) é possível traçar um quadro das preferências de Paulo, dos lugares que costuma frequentar, as relações pessoais que mantém, de seus hábitos financeiros e, até mesmo, saber o local em que está naquele exato momento.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, podemos destacar que diretores de supermercados sabem o que um determinado indivíduo consome, o mesmo acontecendo com os dirigentes de bancos, que têm todos os dados de suas movimentações financeiras ou das companhias telefônicas, que têm a gravação de suas conversas. Empresas vinculadas a leitores de textos digitais têm acesso a hábitos de leitura - podendo, assim, direcionar propagandas de acordo com o perfil de interesse do usuário. Câmeras de vigilância registram informações sobre os indivíduos, em grande parte das vezes sem seu consentimento. GPSs armazenam os percursos percorridos pelos indivíduos. Identificadores biométricos registram a entrada e saída dos indivíduos de determinado local.

Computadores, câmeras de vigilância, cartões de crédito, smartphones, GPSs, identificadores biométricos, chips de identificação, entre outras tecnologias informacionais, estão constituindo uma "sociedade da vigilância". Essa expressão caracteriza a sensação de observação gerada pela presença de tecnologias na sociedade, as quais possuem um grande potencial de coleta e armazenamento de informação. Conforme os exemplos citados, na "era da informação" temos acesso a esses dados pessoais sem dificuldade. A facilidade de acesso a este tipo de informação coloca em discussão o tópico da privacidade.
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O PRINCIPAL
 mecanismo que representa as tecnologias informacionais é o Facebook. E o Brasil lidera o avanço do uso dessa rede social em todo o mundo, com crescimento de 146% no total de usuários em 2012. Em junho último, o país chegou a 54 milhões de usuários ou 5,6% do total da rede no mundo. Os dados são da Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador norte-americano.

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O Facebook é considerado, hoje, uma das principais ferramentas para se conseguir acesso a informações pessoais e que posteriormente serão utilizadas para oferecer serviços

A privacidade é caracterizada no escopo dos estudos tradicionais (Samuel Dennis Warren [1852-1910] e Louis Dembitz Brandeis [1856-1941], 1890; Ferdinand David Schoeman, 1984; Judith Wagner DeCew, 2006, entre outros) como a informação pessoal que é passível de acesso apenas ao próprio indivíduo ou a quem ele considere confiável. Nesse cenário, o tópico da privacidade constitui um problema, por exemplo, quando informações pessoais são acessadas e/ou divulgadas sem o consentimento do indivíduo a quem se referem, via fotografia, jornal ou TV - uma vez que estes são meios pelos quais as informações pessoais podem ser tornadas públicas sem autorização deste.

O domínio digital
A máxima que prega que quem domina a informação detém o poder está mais atual do que nunca em tempos de tecnologia digital. Atualmente, é quase imperceptível e ilimitado o controle que as empresas exercem sobre os indivíduos. Muitas adquirem mais conhecimento a respeito da vida das pessoas do que elas próprias imaginam. Em função dos mecanismos tecnológicos, cada dia se torna mais fácil invadir a individualidade dos cidadãos, pois, afinal, em todas as atividades deixamos pistas digitais.
Há exemplos diversos e relacionados às mais corriqueiras atividades. As empresas que têm acesso às movimentações de cartões de crédito não encontram dificuldades em descobrir quais os lugares frequentados pelas pessoas, passando por restaurantes, bares, lojas, cinemas ou jogos de futebol. Há casos que chegam a requintes de detalhes.
Por serem altamente reveladoras, as redes sociais também são monitoradas. Alguns sites, como o Google e o YouTube, têm acesso gratuito, pois, a partir deles, é possível elaborar estatísticas em relação às expectativas de consumo, o que é fundamental para o mercado. Para conseguir isso, eles utilizam uma técnica bastante eficiente, pois sob o manto de uma aparente vocação de utilidade pública acabam produzindo e atualizando, em tempo real, imensos bancos de dados, que, posteriormente, funcionam como uma eficiente forma de controle.
Veja o texto de nosso colunista João Teixeira sobre o assunto na página do Facebook, intitulado "Leviatã Digital":www.facebook.com/RevistaFilosofiaCienciaEVida

O surgimento das tecnologias informacionais, principalmente a internet, aumentou a dificuldade de discutir o tópico da privacidade. Com a internet, os indivíduos que na época da TV eram apenas receptores de informação passaram a ser produtores de informação, disseminando-a por meio das tecnologias, que possibilitam que as informações - dentre elas as que se referem a algo pessoal dos indivíduos - ganhem amplitude global rapidamente.
Diante do contexto indicado, há espaço para a privacidade na "era da informação"? Em 1964, o escritor americano Louis Kronenberger (1904-1980), em seu livro The cart and the horse, considerou que com o surgimento da TV a privacidade tinha tomado seu golpe final. Com as tecnologias informacionais, Kronenberger ficaria ainda mais certo de seu veredicto. A privacidade teria chegado a seu fim?
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Os supermercados sabem qual produto o cliente consome, podendo direcionar propagandas de acordo com o perfil de interesse do usuário
Diferentemente de Kronenberger, consideramos que a privacidade ainda não tomou seu golpe final. Contudo, a noção de privacidade tradicional parece não se encaixar no que é admitido como privado atualmente pelos indivíduos. Entendemos que a noção tradicional de privacidade, enquanto "vida privada", íntima, pertencente apenas ao sujeito e acessível somente a ele/a ou a quem ele/a considere confiável, está se alterando. Essa alteração ocorreria, por exemplo, em virtude de interações interpessoais realizadas por meio de interfaces digitais. Nesse contexto, a noção de privacidade tradicional parece não ser adequada para a compreensão do limite daquilo que é admitido como privado. Em tais interações, realizadas, principalmente, no âmbito das redes sociais na internet, as pessoas se expõem sem que essa exposição seja acompanhada de um sentimento de invasão de sua privacidade.


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COMPUTADORES, CÂMERAS DE VIGILÂNCIA, CARTÕES DE CRÉDITO, SMARTPHONES, GPSS, CHIPS DE IDENTIFICAÇÃO, ENTRE OUTRAS TECNOLOGIAS, CONSTITUEM UMA "SOCIEDADE DA VIGILÂNCIA"



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As câmaras de vigilância, ao mesmo tempo que prestam um serviço no que se refere à segurança dos indivíduos, acaba assumindo um caráter negativo da privacidade
Assim, uma primeira dificuldade na análise da privacidade na "era da informação" consiste em analisar a privacidade em um contexto no qual as informações concebidas no passado pelo senso comum como privadas se tornam explícitas e acessíveis em ambientes virtuais. Nesse sentido, como considera Luciano Floridi (2006a), as tecnologias informacionais estariam redesenhando os limites do que é considerado privado pelos indivíduos. Mas como delimitar as fronteiras entre público/privado? Dentre as principais dificuldades para tal delimitação seria a falta de um limite fixo, como diz Rafael Capurro (2005, p. 40):
"[...] alguma coisa que atualmente parece uma violação da privacidade pode ser amanhã considerada como uma situação normal. Por exemplo, a série de TV Big Brother era questionada, do ponto de vista moral, como uma ameaça à privacidade - quando de fato, muito das vezes, é apenas entediante".
Apesar da di culdade de identi car o que é considerado como privado pelos indivíduos, julgamos que tal demarcação poderia ser obtida por meio da análise a partir da perspectiva dos sistemas complexos (João Antonio de Moraes, 2012; Maria Eunice Quilici Gonzalez e João Antonio de Moraes, 2013).

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A tecnologia do smartphone também ajuda a constituir a chamada "sociedade da vigilância", que se caracteriza pela sensação de estar sendo observado
De acordo com Moraes (2012, p. 85), à luz da perspectiva dos sistemas complexos, a privacidade passa a ser analisada, enquanto convencionalmente constituída, a partir das propriedades que são significativas aos indivíduos inseridos em certos grupos, diferindo conforme o contexto. Além disso, a localização do indivíduo se faz relevante em virtude do seu modo de conduta, tanto no mundo "real" quanto na rede, que reflete o meio em que está inserido. Nesse sentido, a análise da privacidade seria estabelecida em função das características pessoais, culturais, profissionais, entre outras, relacionadas com aquelas presentes em outros indivíduos pertencentes ao mesmo grupo ou sistema, sendo tais características dignas de serem protegidas. Por exemplo, enquanto para um determinado grupo de indivíduos (principalmente adolescentes e aqueles que têm maior proximidade com o uso de tecnologias informacionais) o acesso à informação por outros indivíduos (mesmo desconhecidos) acerca do local em que está, do filme que vai assistir, do ingresso do jogo de futebol que acaba de comprar, do início ou fim de relacionamento, não constitui uma invasão a suas privacidades, para outros o simples uso da biometria em uma biblioteca, por registrar determinados hábitos e preferências, pode causar uma sensação de invasão de privacidade.

INTERAÇÃO
A partir da inserção das tecnologias informacionais na vida cotidiana, os indivíduos interagem entre si, independentemente das distâncias físicas, formando redes de relações, nas quais estão presentes concepções do que é significativo e, por essa razão, digno de ser protegido. Constituem- se, então, inter-relações nos planos indivíduo-indivíduo, indivíduo-grupo, grupo-grupo; sendo que tais planos denotam uma localidade, na qual se constitui a noção de privacidade e sobre a qual tal noção retroage (por exemplo, culturalmente) de modo a condicionar as concepções e ações dos indivíduos. Nesse sentido, a análise dos limites do "contexto" no qual a privacidade é admitida extrapola as relações físicas (corpóreas) entre indivíduos, incluindo, também, as redes de relações constituídas em âmbitos virtuais.

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TÓPICO DA PRIVACIDADE CONSTITUI UM PROBLEMA, POR EXEMPLO, QUANDO INFORMAÇÕES PESSOAIS SÃO ACESSADAS E/OU DIVULGADAS SEM O CONSENTIMENTO DO INDIVÍDUO


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O AVANÇO das invasões de privacidade no universo digital e o consequente crescimento das infrações nessa área fizeram a Câmara Federal aprovar os projetos de lei nº 2.793/11 e 84/99, que tornam crimes algumas condutas na internet. os PLs definem mais rigor na punição para esses crimes, com penas de reclusão de um até cinco anos.

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O escritor norte-americano Louis Kronenberger, ainda em 1964, afirmou que o surgimento da televisão seria responsável pelo fim da privacidade
Buscamos apresentar um método de análise a partir do qual poderíamos identificar os limites do que é considerado privado pelos indivíduos e, assim, defender a possibilidade de analisar a privacidade no contexto da "era da informação". Porém, tal defesa se torna cada dia mais difícil em virtude da inserção desenfreada de tecnologias informacionais na vida cotidiana, que estariam contribuindo para a constituição de uma sociedade "100% transparente". Um aspecto intrigante dessas tecnologias é sua inserção visando que o indivíduo não atente para sua presença. São elas:
- recursos visuais (câmeras de vídeo);
- identificadores biométricos (reconhecimento de voz, digital, íris);
- rastreadores de veículo (GPS, Sem Parar);
- grampos eletrônicos (grampo telefônico);
- tarjetas de identificação por radiofrequência - RFID (presentes em crachás, passaporte, cartão de crédito etc.);
- espiões digitais (presente no Kindle, por exemplo).


Imagem: Rede Globo
Quando surgiu, a série de TV Big Brother era questionada e criticada, do ponto de vista moral, como uma ameaça à privacidade. No entanto, hoje é vista apenas como um programa entediante



As informações sobre os hábitos pessoais dos indivíduos, que antigamente podiam ser obtidas a partir do acesso ao seu lixo residencial, atualmente podem ser adquiridas de maneira rápida e confiável por meio dos dispositivos elencados.
Entendemos que a familiaridade e a aceitação tácita das tecnologias informacionais pelos indivíduos, em sua vida cotidiana, contribuem para a adesão de uma transparência das informações sobre seus hábitos. Conforme destacado por Capurro (2005, p. 42), em sua visão crítica acerca da inserção das tecnologias na vida cotidiana dos indivíduos, a noção de privacidade adotada pelo senso comum estaria sendo substituída por uma de transparência: "Seja transparente! Então, você será um bom cidadão". Como equacionar a relação transparência/privacidade, dado que a transparência seria em prol da segurança pública?

SEGURANÇA
O entendimento de que a transparência dos cidadãos para o Estado contribuiria para a manutenção da segurança pública pode envolver um caráter negativo da privacidade. Nesse contexto, proteger informação pessoal equivaleria a não contribuir para a segurança coletiva. Idealmente, a transparência das informações sobre os indivíduos para o Estado poderia, sim, contribuir para a conservação da segurança pública, uma vez que não haveria segredos, facilitando a previsão de futuras ações moralmente inaceitáveis. Além disso, o livre acesso às informações dos indivíduos poderia produzir relações pessoais "sinceras".

Imagem: Shutterstock

ENTENDEMOS QUE A NOÇÃO TRADICIONAL DE PRIVACIDADE E INTIMIDADE, ENQUANTO "VIDA PRIVADA", PERTENCENTE APENAS AO SUJEITO E ACESSÍVEL SOMENTE A ELE, ESTÁ SE ALTERANDO


Contudo, entendemos que, mais do que pontos positivos, a transparência dos indivíduos poderia trazer consequências negativas para a dinâmica da sociedade. O possível acesso às informações pessoais poderia gerar uma sensação de vigilância constante, interferindo na espontaneidade de suas ações. Tal acesso poderia, também, constituir um clima de hostilidade entre grupos que possuem interesses distintos, interesses esses que estariam disponíveis para conhecimento. Por exemplo, se atualmente, com o pouco acesso à informação, grupos de torcidas rivais conseguem organizar encontros para confronto, a transparência de informações sobre certo tipo de preferências ampliaria o potencial de ocorrências desse tipo de situação.
Imagem: Shutterstock
Quem é mais próximo da tecnologia não acha invasão de privacidade alguém ter acesso a informações do tipo qual filme ele vai assistir
Apesar dos exemplos dados se referirem a um estágio ideal de transparência de informação pessoal quase-total, julgamos que, sem uma reflexão crítica acerca dos avanços da inserção de tecnologias informacionais na sociedade, sua constituição não é impossível. Simon Garfinkel (2009, p. 69), por exemplo, destaca a tentativa do governo americano de desenvolver um dossiê digital dos indivíduos, a partir da reunião de bancos de dados que contêm grande quantidade de informações sobre todos os cidadãos. Esse projeto ficou conhecido como "fusão de dados". Apesar do autor considerar que esse projeto está longe de ser implantado, entendemos que ele seria um caminho para tal transparência:
"[...] se um sistema de fusão de dados não funciona como desejado pode ser que seus algoritmos sejam falhos. Mas o problema, também, pode ser escassez de dados. Da mesma forma, se o sistema está funcionando bem, injetar mais dados poderá fazer com que funcione melhor. Em outras palavras, as pessoas que desenvolvem e usam esses sistemas estão, naturalmente, inclinadas a querer uma entrada cada vez maior de dados, independentemente da eficiência do sistema. Assim, os projetos de fusão de dados têm uma tendência intrínseca de invasão. Em seu artigo de 1994, Clarke concluiu que as trocas "entre o interesse do Estado no controle social e o interesse dos cidadãos individuais na liberdade de interferência não razoável são constantemente resolvidas em prol do Estado".

A tecnologia, como dimensão da vida humana
As atividades humanas estão ficando, a cada dia, mais dependentes da tecnologia e, portanto, susceptíveis às suas vulnerabilidades e seus efeitos. a Filosofia ajuda a reconhecer a tecnologia como dimensão da vida humana e, não apenas, como um evento histórico. o controle exercido pelas ferramentas proporcionadas pelos avanços no setor vem sendo alvo de análises de inúmeros filósofos.
Alguns estudiosos desenvolvem um paralelo deste domínio com o livro Leviatã, escrito por thomas Hobbes (1588-1679). a obra defende a existência de um governo absoluto, central e forte, que, efetivamente, toma conta de tudo. Hoje, a internet pode ser considerada o Leviatã Digital, uma vez que exerce total controle sobre nossos atos.
Martin Heiddeger (1888-1976), por sua vez, analisa a questão da tecnologia, afirmando o caráter técnico que domina o mundo moderno. ele alerta para o fato de que o homem se apropria dela e, ao se apropriar, esquece de si e se torna pobre em pensamento, perdendo suas raízes. o nosso tempo, segundo Heidegger, representa o fim do paradigma que, se por um aspecto, é positivo no que se refere aos benefícios tecnológicos, por outro é pobre em relação ao valor das coisas.
Andrew Feenberg considera a tecnologia como a "estrutura material" da Modernidade. Mas ela, ainda de acordo com Feenberg, não é apenas um instrumento neutro, pois enseja valores antidemocráticos originários da sua vinculação com o Capitalismo, que observa o mundo em termos de controle.
Para Feenberg, os valores e interesses das classes dominantes estão representados no desenho tecnológico. a tecnologia não constitui uma entidade autônoma. a conquista da natureza que ela traduz não é "metafísica" (como afirma Heidegger), mas começa com a dominação social.

Tendo em vista a concepção do projeto de "fusão de dados", a tendência a uma sociedade "transparente" seria inevitável? Em outras palavras, retomando a questão inicialmente colocada, o fim da privacidade seria apenas uma questão de tempo? Essa questão ainda se coloca, mas as evidências indicam que sim. Por ser evidente, faz-se relevante indagar: podemos e/ou queremos fazer algo para evitar esse fim?
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Mesmo com a dificuldade promovida pela inserção das tecnologias informacionais na ação humana, entendemos que, se iniciada uma reflexão acerca dos impactos de tal inserção, ainda seria possível conservar a privacidade, mesmo no âmbito virtual. Nesse contexto, o papel do filósofo é de grande importância, pois é necessária uma reflexão crítica das consequências morais e políticas de tais tecnologias na ação dos indivíduos. Este tipo de reflexão ainda está se iniciando no Brasil, mas, atualmente, tem sido um dos principais objetos de estudos da Filosofia da Informação e da Ética Informacional fora do país (e.g.: Capurro, 2005; 2006; Floridi, 2006a, 2006b).
A discussão acerca da privacidade no contexto da "era da informação" é constituída mais por questões do que respostas. Isso em virtude do caráter de novidade que as tecnologias aplicaram a este assunto e, também, da constante alteração que as normas que regem os assuntos ligados à privacidade têm sofrido. É preciso, então, revisitar este assunto constantemente. Além disso, discussões acerca da privacidade no âmbito virtual e da interação entre indivíduos/ tecnologias informacionais deveriam ser assuntos-chave na agenda filosófica dos novos rumos que a Filosofia tem seguido na "era da informação".

REFERÊNCIAS
CAPURRO, r. Privacy. an intercultural perspective. In: Ethics and Information Technology, v. 7, p. 37-43, 2005. ______. Towards an ontological foundation of Information ethics. In: Ethics and Information Technology, v. 8, n. 4, p. 175-186, 2006.
DeCEW, J. (2006). Privacy. In: Stanford Encyclopedia of Philosophy. Disponível em: <http://plato.stanford.edu/entries/privacy/> acesso em: 27 ago. 2012. GARFINKEL, S. L. Informações do mundo unificadas. In: Scientific American Brasil, n.77, p. 64-69, 2008. FLORIDI, L. The ontological interpretation of informational privacy. In: Ethics and Information Technology, v. 00, p. 1-16, 2006a. ______. (2006b). Four challenges for a theory of information privacy. Disponível em: <http://www.philosophyofinformation.net/publications/pdf/fcfatoip.pdf>. acesso em: 1 ago. 2011. GONZALEZ, M. e. Q.; MoraeS, J. a.Complexidade e privacidade informacional: um estudo na perspectiva sistêmica. In: GONZALEZ, M. e. Q.; ANDRADE, r. C. S.; PELLEGRINI, a. M. (orgs.). Auto-organização: estudos interdisciplinares. (Coleção CLE). Campinas: Unicamp, (no prelo) C. S.; PELLEGRINI, a. M. (orgs.). Autoorganização: estudos interdisciplinares. (Coleção CLE, v. 00). Campinas: Unicamp, p. 00-00, 2013. KRONENBERGER, L. The cart and the horse. new York: alfred a. Knopf, 1964. LEWIN, r. Complexidade: a vida no limite do caos. rio de Janeiro: rocco, 1994. MAINZER, K. Thinking in complexity: the complex dynamics of matter, mind, and mankind. nova York: Springer, 1997. MoraeS, J. a. Implicações éticas da "virada informacional na Filosofia". Unesp, 2012 (dissertação de mestrado). MorIn, e. Ciência com consciência. rio de Janeiro: Bertrand russel, 2005. SCHoeMan, F. (ed.). Philosophical dimensions of privacy: an anthology. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.z




* João Antonio de Moraes é doutorando em Filosofia pelo CLE-UNICAMP, Campinas-SP. Mestre e Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista Júlia de Mesquita Filho (UNESP) , Marília
E-mail: moraesunesp@yahoo.com.br 

O fim de ano chegou, e a melhor propaganda institucional e a melhor propaganda comercial do ano merecem destaque:

Melhor propaganda institucional do ano:

Air France "L'Envol"




Melhor propaganda comercial do ano:

NOVO CITROËN C3 - Gangorra


Henrique Soares
Núcleo de Jornalismo
Assessoria de Comunicação


Portal da UNEB



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Estudantes da oficina de teatro do Nart apresentaram peça Viva Suassuna. Fotos: Juliana Juliana/Ascom
Uma plateia curiosa aguardava com ansiedade a abertura das cortinas do Teatro UNEB na noite de ontem (4), no Campus I da universidade, em Salvador. Era a primeira vez que o show Maracatu Atômico Kaosnavial iria ser apresentado na capital baiana.
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Cantor e compositor Jorge Mautner: "Estar na Bahia, com vocês da UNEB, é emocionante"
Quando o cantor e compositor Jorge Mautner apareceu no palco, trazendo o grupo Maracatu Estrela de Ouro, um teatro lotado aplaudiu em êxtase.
“Estar na Bahia, com vocês da UNEB, é emocionante. Um grande presente para mim, pois este é um estado que tem amor no coração. Aqui começou o Brasil, que é um grande amálgama cultural”, disse Mautner.
“Soube desse evento por meio do site da universidade e queria muito conhecer o maracatu, que só via pela TV. Além disso, estar diante de Jorge Mautner, um músico reconhecido nacionalmente, é muito bom”, comemorou o estudante de relações públicas do Campus I da UNEB Mateus Gonçalves, que assistiu ao espetáculo com a colega de sala Elisane Alves.
O show teve ainda a participação do cantor Zé Duda, que ao cantar os versos “No toque do meu apito só não dança quem não quer” animou Maria Selma Santos, 52 anos, discente da oficina de dança do Núcleo de Arte (Nart) da Proex.
“Já sou avó, mas essa alegria mora em mim. A oficina foi meu primeiro contato com esta universidade. E estou gostando muito”, disse Maria Selma, sob o olhar da orgulhosa professora Aline Rosas.
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Estudante Mateus Gonçalves: "Queria muito conhecer o maracatu, que só via pela TV"

Prestação de contas à sociedade

O Show fez parte da programação do espetáculo artístico e cultural Expotudo 2012, que integra as atividades do projeto de extensão Sertão Mar, do Núcleo de Arte (Nart) da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da instituição.
Para a vice-reitora da UNEB e pró-reitora Adriana Marmori (Proex), o Expotudo é uma prestação de contas à sociedade: “Essa é uma ação extensionista de grande relevância para a comunidade local. Com o espetáculo nossa universidade confirma o compromisso de viabilizar projetos que dialoguem com o público externo”.
Já para Isa Trigo, coordenadora do Nart, por ser gratuito o evento proporcionou uma oportunidade única para o público externo.
“A Expotudo mostra que temos uma enorme demanda por cultura. É apenas o começo de uma série de atividades que queremos realizar na UNEB”, sinalizou Isa.
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Vice-reitora Adriana Marmori: Expotudo é uma prestação de contas à sociedade

Apresentações de samba, teatro e filme

Mas a noite não foi reservada só ao maracatu. Teve espaço ainda para o samba produzido pelos Filhos do Asipá, que em uma de suas músicas homenagearam as marisqueiras de Cabuçu.
E também teve espaço para peças teatrais. Onze estudantes da oficina de teatro do Nart arrancaram risos do público com a peça Viva Suassuna, que é dirigida por João Lima.
“Santo Antônio casa e São João batiza. Para entrar no céu é São Pedro quem autoriza”, cantaram os atores em meio aos aplausos da plateia.
Outro destaque da programação foi a exibição de um filme Maracatu Atômico Kaosnavial, que conta o encontro de Jorge Mautner com o maracatu pernambucano.

Galeria de fotos



Renata Fernandes *
O impacto visual de uma marca bem trabalhada não só em seu design gráfico, mas na sua comunicação de forma geral, acaba se fixando na mente do consumidor, muitas vezes, sem que ele perceba isso de maneira consciente. Duvida? Pois o designer britânico Graham Smith arriscou uma brincadeira visual com marcas concorrentes usando elementos marcantes de uma na outra que vão aguçar sua memória e fazer seu cérebro denunciar a ‘fraude’ rapidinho.
Visto AQUI.
*Renata Fernandes é designer e trabalha com criação publicitária. No seu blog, com atualizações diárias e pitadas de humor, ela fala sobre design e os seus desdobramentos na cultura, no comportamento, no lazer, além de tendências do universo criativo. 


Por Patrícia Ávila
Todos os anos, centenas de profissionais de comunicação chegam ao mercado de trabalho. Formados em jornalismo, relações públicas, comunicação social e outras disciplinas correlatas, esses jovens, em geral, saem de faculdades nos quatro cantos do país para disputar vagas em empresas, agências ou veículos de imprensa. Saem formados, mas não prontos. E isso não é privilégio dos novatos. Mesmo entre os mais velhos, que já ocupam cargos de destaque, há um número surpreendente de gente sem habilidade para exercer parte da função a que se propôs.
Comunicação não é uma ciência exata – isso, por si só, já complica muito qualquer tentativa de descrever com objetividade o perfil de um bom profissional da área. Mas não custa tentar.
Acredito que, em qualquer campo de atividade, o bom profissional precisa dominar três habilidades básicas: conhecimento técnico, capacidade de gestão e relacionamento. As escolas e faculdades, em geral, têm feito um bom trabalho ao transmitir e desenvolver o conhecimento técnico, embora ainda precisem de um cuidado especial com a redação. Sim, o básico dos básicos: a redação. Imagine um jogador de futebol sem intimidade com a bola. Tenho visto muitos profissionais de comunicação maltratando o idioma e os ouvidos da audiência, e isso não é coisa que se possa corrigir rapidamente.
A gestão já é algo mais sofisticado, mas igualmente importante. Precisamos saber gerir pessoas e projetos. Gerir tarefas e prazos. Gerir o nosso tempo e o alheio. Gerir orçamentos. (Sim, matemática é importante!) Saber planejar e replanejar. Gente desorganizada não pode trabalhar com comunicação, esse negócio imprevisível e cheio de surpresas ao longo do caminho.
E o principal vem agora. Comunicar-se é estabelecer relacionamentos. Se você não quer, não sabe ou não gosta de se relacionar, esqueça:  comunicação não é a sua praia. Há muita gente grande por aí que ainda não entendeu isso, e tenta atuar na área passando por cima da opinião alheia (e da dignidade também), como um trator. Em comunicação, não basta saber falar: tem que saber ouvir, e muito.
Em resumo, conhecimento técnico, gestão e relacionamento são um excelente ponto de partida. Se você somar um pouco de curiosidade e criatividade, tiver capacidade analítica e de observação, e puder adicionar uma dose generosa de bom humor, você é o candidato ideal. Pode vir: você está contratado e começa amanhã.

Fonte: Radar Digital
Videodrome (1983) 87:20 - 18 Anos - Estados Unidos da América
Sinopse: Dono de uma pequena emissora de televisão a cabo tem suas transmissões afetadas por imagens fortes e chocantes de uma estranha experiência. A princípio sem saber a origem das cenas, ele descobre aos poucos que se trata de um programa de hipnose que também acaba manipulando-o. O filme do começo da carreira do diretor David Cronemberg, tornou-se um cult.


O filme faz conexões com as ideias do teórico da comunicação Marshall McLuhan. McLuhan introduz as expressões o impacto sensorial, o meio é a mensagem e aldeia global como metáforas para a sociedade contemporânea, ao ponto de se tornarem parte da nossa linguagem do dia a dia. McLuhan foi precursor dos estudos midiológicos. Seu foco de interesse não são os efeitos ideológicos dos meios de comunicação sobre as pessoas, mas a interferência deles nas sensações humanas, daí o conceito de "meios de comunicaçao como extensões do homem" (o título de uma de suas obras), ou "prótese técnica". Em outras palavras, a forma de um meio social está diretamente relacionada as novas maneiras de percepção instauradas pelas tecnologias da informação. Os próprios meios são a causa e o motivo das estruturas sociais.

Assista aos comentários do crítico Marcelo Janot sobre o clássico de David Cronemberg:

Assista também ao trailer do filme:




Crítica por Rodrigo Duarte no Canto do Cinéfilo:

O crítico R. Barton Palmer levanta uma hipótese interessante quando coloca que "a história de David Cronenberg sobre as horríveis transformações geradas pela exposição à violência televisionada, aborda habilmente os problemas que o próprio diretor havia tido com censores, distribuidores de Hollywood e grupos feministas por conta da exploração de imagens de violência sexual em suas produções anteriores." Essa livre interpretação do filme enriquece a sua análise, uma vez que aproxima o seu idealizador do seu objeto de estudo.

Na verdade, Videodrome é o primeiro filme em que as obsessões e o estilo que fizeram a fama de Cronenberg se manifestam em toda a sua plenitude. Não fosse a mente perturbada do diretor canadense (peço licença pra me servir do cliché comumente associado à figura do cineasta) o filme não passaria de um noirordinário: um produtor de TV inescrupuloso (James Woods) se dá conta, por meio de uma inspiradíssimafemme fatale (Deborah Harry), de que não passa de um intermediário em um complexo esquema severo de manipulação de mentes e desejos - o matrix de Cronenberg quase vinte anos antes do Matrix (1999) dos irmãos Wachowski, bem menos estilizado e muito mais interessante.

A ideia (recorrente em cinema) do protagonista que se apaixona por uma imagem (não necessariamente pelo objeto) é levada ao extremo em Videodrome. O filme aborda, dentre outras coisas, a vertente nefasta da relação homem x imagem (no caso a TV, mais precisamente o vídeo - lembremos que o filme é do início dos anos 80). É impossível prever nos primeiros minutos de projeção que o filme nos conduzirá às mais recônditas e bizarras manifestações do subconsciente - dos deles (o diretor e seu protagonista) e do nosso. Os eventos se sucedem naturalmente, em um ritmo vagaroso, contrastando com a extravagância das questões que emergem na tela. A opção acertadíssima de evitar um cenário futurista, ou retrô carregado, ou qualquer alternativa que nos afaste da "nossa realidade", contribui para o efeito de estranhamento que a trama nos proporciona. Eu gosto particularmente da maneira como o filme nos envolve sem chamar a atenção para a sua excentricidade.

A filmografia de Cronenberg é repleta de referências ao sexo (o ato sexual e a sexualidade) e a violência, bem como aos efeitos dessa combinação. Dada a natureza instintiva de ambos, não espanta que seus personagens se comportem, por vezes, como animais selvagens. A Mosca (1986) é a metáfora perfeita dessa condição. No entanto, a imagem que melhor ilustra essa combinação em toda a filmografia de Cronenberg se encontra em Videodrome: a pistola na mão de James Woods (representando seu pênis) com o cano a acariciar o “inexplicável” orifício (remetendo a uma vagina) formado em sua barriga.

É um cinema de vícios e que vicia. Sem contra indicações.